Texto: Alan Spector
November 15, 2010
Sempre ouvi do meu pai e da minha mãe que a vovó Sionna foi uma mulher à frente do seu tempo. Nesses últimos dias, conversando com o Tio Nelson e ouvindo histórias sobre sua juventude, acho que entendi ainda melhor o que essas palavras significavam. Numa época em que não se falava sobre igualdade de gênero, minha avó se formou em contabilidade e foi uma das primeiras mulheres a trabalhar em uma empresa. Saiu de lá após ouvir comentários anti-semitas de seu chefe e, com a determinação e com a forte personalidade que lhe eram características, afirmou que, mesmo sendo mulher, estaria empregada em 48 horas. Dito e feito. Ela continuou sua vida profissional com sucesso, aprendeu a falar inglês e francês e dirigia seu próprio carro. Quando se casou, meu avô Wolf teve que emitir um documento legal que autorizava sua esposa a continuar trabalhando.
Juntos, eles dois tiveram um casamento extremamente harmonioso e foram muito felizes. A família sempre foi o centro de sua vida. Construíram um lar acolhedor para os filhos, que também estava sempre de portas abertas para os irmãos e suas respectivas famílias e onde foram comemorados muitos chaguim, com muita alegria.
Eu, particularmente, sempre lembrarei com muito carinho dos almoços de domingo, regados a divertidas conversas; dos jogos de tranca; das viagens de férias para o Bucsky e para o São Moritz e dos imbatíveis kmish broit e honik leiker que chegavam lá em casa na época de yom tov e que eram, sem dúvida alguma, os meus doces preferidos - mesmo as versões sem açúcar, depois que eu fiquei diabético. Ainda tenho guardada a entrevista que fiz com ela para registrar a história da família Ribinik no ano do meu Bar Mitzvah e a medalha Theodor Herzl, recebida pelo Biso Alberto, que ela me deu nesta ocasião. Lembro de como a vovó Sionna esteve presente em todos os momentos importantes e de como nos apoiou nas horas difíceis, em que a vida nos pôs à prova. Ela fez questão de acompanhar de perto as quatro cirurgias do meu pai, de viajar para Nova York e aproveitar o precioso tempo que lhe restava junto com ele. Após o imenso vazio de sua perda, ela ainda lutou e conseguiu tirar forças para seguir em frente da forma que lhe foi possível.
Recentemente, encontramos nas músicas em Iidish que ela nos ensinou quando pequenos uma forte ponte de comunicação.
Quando penso na Vovó Sionna, me vem à cabeça a imagem de seu doce sorriso e a ternura que irradiava de seu olhar. Lembro de suas mãos quentinhas e de seu jeito delicado, mas firme de falar. Penso na enorme fortaleza moral e na integridade que sempre estiveram presentes em suas atitudes.
A dor desse momento é profunda, mas o que fica é um grande sentimento de admiração e de amor. E a certeza de que você, vó, continuará a viver dentro da gente, através dos valores que nos transmitiu, do exemplo de caráter tão importante para nossa formação e das memórias de tantos momentos gostosos compartilhados.